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Como anda a saúde emocional de quem está entrando no mercado de trabalho atualmente?

Embora eu não atue na área organizacional e muito menos contribua no processo de contratação de funcionários, trabalho diretamente com pessoas e, trabalhadores são 100% PESSOAS.

Ultimamente tenho recebido, recorrentemente, uma demanda que tem me assustado, a quantidade de profissionais no fim da graduação e início de carreira que encontram-se em sofrimento, justamente, em função do que se propuseram a fazer com tanto empenho!

E vejo que isso se repete, de maneira geral em nossa sociedade, pessoas na casa dos 25 anos que sofrem, se angustiam, vivenciam muita ansiedade em função das cobranças da vida acadêmica e profissional, e das auto-cobranças em ter que fazer sempre mais e sempre melhor.
O que acontece quando entramos no mercado de trabalho?

É bem verdade, que a inserção no mercado de trabalho e de certa forma na vida adulta, costuma trazer incertezas e angustias. Eu, particularmente, recorri a psicoterapia alguns meses após iniciar no meu primeiro emprego, por me perceber em um choque de realidades e valores, fui criada em um sistema de que “combinado não sai caro” ou seja, aprendi que compromisso, comprometimento e honestidade são imprescindíveis e não relativizáveis, que palavra vale mais do que tudo, sofri ao perceber que as pessoas não eram tão corretas, honestas ou comprometidas quanto eu. Mas isso me fez amadurecer e empreender de maneira muito mais assertiva e, ao meu ver, bem sucedida, com a compreensão de onde eu deveria agir e de onde deveria me afastar.

Mas, me parece que essa não necessariamente seja a questão que tenho observado hoje! Na minha experiência pessoal, eu estava segura de quem eu era, da minha capacidade e poder de transformação, o que me faltava era um contexto que compartilhasse dos mesmos valores.

Atualmente percebo um contexto muito mais danoso, que promove a descaracterização e consequentemente, a fragilização da auto-imagem dos novos profissionais. É sabido que os índices de diagnósticos de transtorno de ansiedade, depressão e comportamentos suicidas tem aumentado em muito dentro dos espaços acadêmicos e vejo extrema relação com o que tenho observado em clínica.

As exigências por produtividade e a pressão psicológica exercida levam a uma desconfiança de si mesmo, perda de identidade pessoal e profissional e, daí, confusão, entre o que é bom, o que é esperado e o que se é capaz de fazer – a pessoa começa a colocar em xeque o que lhe eram certezas absolutas. Na falta da atmosfera acadêmica, muitas empresas exercem esse papel e o funcionário passa a ser um profissional adoecido emocionalmente. Muitas vezes a procrastinação nasce nesse cenário!

O que cada pessoa pode fazer por si mesma? Como avaliar e buscar estratégias para uma melhor qualidade de vida?

Primeiramente, ao buscar uma atividade profissional é importante que a mesma lhe permita realização pessoal e profissional, uma vida saudável depende de equilíbrio. Portanto, ao considerar quanta afinidade há com sua área de trabalho, ou mesmo renovar a motivação para a realização de uma tarefa, realize reflexões como: Quem eu sou? Quais são meus valores? Porque eu me propus a fazer isso?

O que cabe a você e pode ser mudado nesse contexto?

Considere as reais possibilidade de mudança nesse cenário, é possível conversar com alguém da equipe? solicitar mudanças? Você pode desempenhar suas funções de maneira mais agradável?

É possível que você tenha que se empenhar em mudanças e deve ter clareza de que regras podem ser flexibilizadas, e isso é saudável, mas valores são arraigados. Portanto, se resvalar em valores importantes para você podem gerar desconforto e descontentamento, esse deve ser um termômetro para agir. Se preciso, busque ajuda! Além do apoio social que amigos e familiares podem oferecer, orientação profissional, como psicoterapia, pode favorecer a construção de auto-conhecimento, estratégias de manejo de estresse e tomada de decisão.

O que a empresa tem a ver com isso?

Empregador, responda, honestamente: Você trabalharia com qualidade e seria feliz nas condições de trabalho (inclusive emocionais) que tem oferecido aos seus colaboradores? Se a resposta for não, considere, seriamente, a possibilidade de estar contribuindo para o adoecimento da sua equipe.
Como favorecer a harmonia entre empregadores e profissionais?

Me parece que o ponto de equilíbrio seria favorecer caminhos de diálogo, construir estratégias para valorizar a pessoa, para além daquilo que ela produz.  Estamos vivenciado um processo muito dinâmico de busca por hábitos mais saudáveis, o que tem favorecido uma reorganização em vários aspectos, inclusive no âmbito profissional.  Acredito que conhecimento e escolhas conscientes, proporcionem melhor qualidade de vida e nesse aspecto podemos trabalhar juntos!



Sou Psicóloga Clínica e ministro cursos e palestras com enfoque Analítico-Comportamental, na cidade de Londrina-Pr, telefone: (043) 99958-6102.

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